terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Um Dia de Crônica Ruim?*

Ano passado li uma postagem de Facebook que me deixou um pouco mais decepcionado com a humanidade. Mais precisamente com a porção brasileira da humanidade: Jovens empreendedores alugavam Iphones para jovens pobres "causarem" nas baladas.
 
Não sei se a desilusão é maior com o capitalista selvagem que descobriu um nicho comercial no jovem Cinderelo da favela ou se com o jovem de classe baixa que prioriza aparências e ostenta o celular da maçã para curtir uma noite de príncipe encantado.

Essa moda de ostentação é recente no Brasil. A coisa toda começou em determinado momento, em meados do ano 2000, com o RAP americano. Os Rappers começaram a enriquecer com sua música, difundida rapidamente pela MTV americana e pelo Youtube e amplamente aceita por jovens de classe média e alta de todo o mundo. Eram músicos que vinham da periferia americana, mas que em lugar de transmitir mensagens conscientizadoras em suas músicas, preferiam ensinar aos jovens pobres que deveriam "Ficar Ricos Ou Morrer Tentando". Não tardou pro jovem pobre brasileiro assimilar esse recado às avessas e imitar o gênero. E assim começou no brasil o Funk Ostentação, cantando sobre carros de luxo, mulheres fáceis e noitadas regadas a Red Bull e "bebidas que brilham". Atualmente o gênero é bem aceito tanto entre jovens de classe baixa que almejam o estilo de vida de seus ídolos como entre jovens de classe média e alta que se divertem com a exoticidade do pobre que almeja ser rico. 

Explorar a pobreza como coisa exótica é algo aceito com normalidade no Brasil desde longa data. Temos o pobre caricato e malandro que mora em casa de três cômodos na novela das 9, temos empresas levando gringos em passeios turísticos por vielas de morros cariocas que mostram o estilo de vida "pitoresco" das favelas, apresentadores de televisão que "esquentam" as tardes monótonas de domingo com a cultura suburbana. Tudo isso existe, mas a exploração da imagem do pobre nunca foi algo explícito. Até agora.

A Jornalista Silvia Pilz escreveu hoje, 13 de janeiro de 2015, em sua coluna "Zona de Desconforto" um texto de título "O Plano Cobre", que é uma verdadeira ode à xenofobia social.

Em um primeiro momento pode-se pensar que o nome Silvia Pilz é um pseudônimo para um jornalista de humor, um personagem humorístico criado por algum escritor aos moldes do Agamenon Mendes Pedreira, jornalista fictício idealizado pelos comediantes Hubert e Marcelo Madureira da finda revista Casseta & Planeta. Mas não é o caso. Silvia Pilz é o nome verdadeiro da jornalista que assina os artigos publicados na dita coluna.

Não a conhecia e, ao ler suas crônicas anteriores, fiquei bastante triste por tê-la conhecido através deste infeliz texto. Seus textos são muito bem escritos! O que teria acontecido desta vez? Estaria Silvia Pilz em um Bad Hair Day? Teria ela assistido a algum capítulo reprisado de Sai de Baixo em que o personagem esnobe Caco Antibes, vivido por Miguel Falabella, destila seu ódio aos supostos hábitos de pessoas pobres e se inspirado no deboche do personagem para compor o texto de hoje?

Qualquer que tenha sido sua motivação, não justifica o resultado final. A intenção por trás do texto parece ser pura e unicamente debochar de pessoas pobres. De maneira análoga ao deboche cruel contra deficientes físicos e mentais durante a idade média. É o tipo de texto que faria Caco Antibes bater palmas de pé.

Mas Caco Antibes é um personagem. Silvia Pilz - de acordo com a biografia de seu site - é jornalista.

*Uma tradução livre para a expressão inglesa "Bad Hair Day" (um dia em que tudo dá errado)