quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"Rala o que?"

Negar que o Brasil é um país culturalmente colonizado pelos Estados Unidos é fazer vista grossa pra tudo o que existe a nossa volta. Desde os alimentos (coca-cola, hambúrguer, milk shake,...), passando pelos estilos musicais (Rock, Reggae, Jazz,...), assim como filmes, moda, etc.

É inegável que somos - em menor ou maior grau - bombardeados pelos enlatados do USA (com sua licença, Renato...). Mas daí a nos sujeitarmos a virar macacos de imitação... há uma enorme diferença;

Eu adoro filmes noir. Acho muito bacana ver o detetive acendendo seu cigarro num beco escuro, ignorando a chuva que desaba sobre seu sobretudo... Mas não é por isso que eu vou gastar uma grana pra posar de "chique" usando sobretudo num país onde a temperatura média é sempre superior a 25ºC. Não bate. Não fica legal. Parece... recalque.

Eu acho que é a questão da autenticidade também... Não há como me fazer respeitar moleques brancos de classe média-alta brasileira, que estudaram a vida inteira em escola particular e moram em condomínios fechados, que de repente começam a escutar RAP e sentem uma vontade enorme de exteriorizar seus sentimentos e angústias... mas acham que vão ser respeitados rimando seu "sofrimento" e fazendo cara de mau na televisão (Acabou a coca-cola? Tá de castigo sem videogame? Papai não deu grana pra matinê?).

E a gente chega ao momento de falar sobre cultura. O Brasil não é um país que respeite "à risca" as festividades, o folclore e as tradições culturais. Vide as festas juninas nas metrópoles, com as moças vestidas de pseudo-caipiras: chapéu de palha, blusa xadrez amarrada na barriga, shortinho jeans e botas que estariam ótimos pra um rodeio... Mas tá longe de ser roupa de caipira!  (os homens no máximo pintam um bigode e põem um chapéu na cabeça - pra não pagar muito mico...).

E dia do Saci, então? Você conhece alguma alma que já tenha comemorado a data?

Afora apresentações esporádicas realizadas por grupos tradicionais ou em zonas rurais, a cultura popular é praticamente ignorada nos grandes centros urbanos.

Mas não acho que isso seja justificativa pra ficarmos "abrindo as pernas" pra tudo, literalmente tudo, que vem de fora! Não seria muito mais autêntico tentar resgatar as festividades da cultura brasileira?

E seja sincero: você alguma vez já viu alguém jogar flores pra Iemanjá em alguma praia na Itália? Ou canadenses dançando quadrilha? Você iria achar bacana chegar no cemitério pra depositar flores para um ente querido no dia de finados e encontrar um bando de gente dançando no cemitério, como fazem os mexicanos? Que tal fazer uma recepçãozinha em casa com uns canapés pra chorar pelo defunto depois do enterro?

Não tenho nada contra a questão de se fantasiar. Acho festas à fantasia um barato! E não vejo motivos pra haver censura ao tema de uma fantasia! Mas um povo que já tem uma dificuldade enorme de respeitar a própria cultura, de repente começar a celebrar festividades naturais de outros países como se fosse tradição nacional... Eu sinto um pouco de vergonha alheia!

É o tal complexo de vira-lata: achar que o que vem de fora é sempre melhor...

Se você ainda não tiver se convencido de que comemorar o Halloween no Brasil é macaquice, beleza... Vá feliz colocar a moranga entalhada na porta de casa e esperar baterem na porta. Mas se não aparecer nenhuma criança pedindo doce, não fique triste... Tente de novo em 27 de setembro.






quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Metrô Rio e usuários bárbaros

Ontem voltei de metrô pra casa no pico do horário do rush... Que experiência traumática!

É uma mistura de sentimentos: raiva, nojo, tristeza, revolta, impotência, indignação...

E o que mais me chateia é que todo mundo entra na onda da empresa! Todo mundo!

O Metrô-Rio tem um cálculo aproximado do número de pessoas que cada vagão em cada composição pode transportar. E em cima desses números ele calcula o preço da passagem de forma a custear a manutenção das plataformas, trens e serviços oferecidos pela empresa e o lucro que vai para os "donos" do Metrô.

O que acontece no horário de rush? Em vez de aguardar carros vazios, as pessoas (com a conivência do Metrô-Rio, já que os guardas não tomam nenhuma atitude pra inibir essa prática) se espremem, se machucam, discutem e chegam mesmo a agredir-se fisicamente para garantir que irão entrar na composição lotada "de qualquer jeito".

E quem ganha com isso?! O METRÔ RIO, que passa a transportar quase 40% mais pessoas do que a capacidade normal das composições permitiria! Você consegue imaginar o lucro dessa empresa no horário de rush?!

E quem perde: você, bonitão! Você que precisa desesperadamente chegar em casa 1h mais cedo pra ver novela ou ficar no Facebook. Você que saiu de casa atrasado esperando que o Metrô fosse dobrar a velocidade e o número de vagões só pra compensar sua desorganização... 

Agindo dessa forma, você tá passando uma mensagem bem clara pro Metrô Rio: 

"não tenho amor-próprio e continuarei pagando caro pra ser transportado diariamente como gado de abate em situações deploráveis, me expondo a contusões, danos a minhas roupas, assaltos, calor, falta de ar, gritarias e tumultos. E jamais reclamarei!"

Mas tenho esperança de que, se essa mensagem tocou a sua carótida, que você aja diferente a partir de agora: saia um pouco mais cedo de casa e aguarde por uma composição vazia. Sente num bar ou numa praça após o trabalho. Tome uma água, um refrigerante ou uma cerveja. Bata um papo com os amigos de trabalho ou leia um livro... Sua qualidade de vida vai melhorar muito e (se outros seguirem seu exemplo), o Metrô será obrigado a comprar mais composições para atender à população de forma adequada.

PS: ou compre uma bicicleta!


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Momento He-Man


Olá, Amiguinhos!

No episódio de ontem, vimos que Freixo lutou, mas que Eduardo Paes acabou convencendo a população, tão acostumada com a política do 'rouba, mas faz'. Mas não podemos nos esquecer que a Monarquia já acabou no Brasil. E, portanto, mesmo que ele e tantos outros representantes que não aprovamos tenham sido eleitos, continuamos a ser seus "patrões" - quer sejam eles vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores ou mesmo presidentes. Por isso, amiguinhos, façamos uso desse poder mágico chamado "cidadania" para acompanhar, cobrar e criticar cada ação dessas pessoas que, acima de tudo, foram eleitas para ouvir nossas necessidades e agir para melhorar a vida em sociedade!

Até o próximo desenho!


domingo, 7 de outubro de 2012

O Globo - No Globinho do Dia das Crianças, aprenda a inventar seu próprio instituto de pesquisas!

Se você costuma ver seus pais lendo o jornal, deve ter percebido que estamos no período eleitoral. E uma grande ferramenta para ajudar a forçar o povo a votar no candidato que o dono do jornal prefere  chama-se instituto de pesquisa. Esses institutos são empresas contratadas pelos jornais e por candidatos corruptos para inventar pesquisas e convencer todo o povo de sua cidade a votar no candidato mais sem caráter e cuja eleição deixe sua cidade mais abandonada e a família dele mais rica. E sabe o que é divertido de trabalhar nesses institutos? Você pode mentir e eles até te pagam por isso!

Bom, mas vamos deixar de papo e começar a brincadeira? Tudo o que você precisa é de um telefone, lápis e papel. Copie as seguintes perguntas a ser feita aos entrevistados:

1- Qual seu grau de escolaridade?

Se a pessoa disser que estuda em faculdade, universidade ou já se formou, pergunte pra ela se tem alguém na casa dela que tenha só o segundo grau. Peça pra falar com essa pessoa.

2- Você vai votar no Eduardo Paes para prefeito do Rio de Janeiro?

É importante falar o nome desse candidato, porque a maioria das pessoas que ainda não se decidiu ou que não quer deixar você triste do outro lado do telefone acaba dizendo que sim. Isso torna as coisas mais rápidas e ajuda o atual prefeito a ser reeleito e alimentar a família dele.

Pronto! Você terminou! Não precisa escrever o nome de nenhum dos entrevistados e nem a quantidade de pessoas que disse sim ou não. Basta criar um nome bem bonito pro seu instituto e escolher um número entre 70% e 85% (não coloque nenhum número maior... senão as pessoas podem desconfiar que é mentira! rsrsrs...) para as intenções de voto do Eduardo Paes. Depois procure no Google o telefone de vários jornais, revistas e emissoras de rádio e TV. Ligue para o maior número possível e informe a elas o número de votos para o Eduardo Paes que você achar mais bonito!

Não foi legal? Quem sabe se até as próximas eleições você não vai estar trabalhando num instituto de pesquisas de verdade e ganhando dinheiro com a mesma brincadeira?




Michel Krieger afirma ter inventado Instagram em homenagem à Dona Benta

Recentemente, durante uma entrevista ao Jornal Correio de São Cristóvão, Mike (como gosta de ser chamado pelos amigos americanos) Krieger informou que a criação do Instagram foi um sonho de infância.

"Minha mãe tinha um livro de receitas da Dona Benta. Era cheio de fotos de comidas e eu achava que aquilo era a mais pura forma de arte. E eu pensei comigo mesmo: todas as pessoas deveriam ter condições de tirar fotos de suas próprias comidas e criar álbuns para mostrar para os amigos!"

E com essa idéia fixa em mente, Mike foi estudar na Universidade de Stanford e criou o programa que permite que todas as pessoas tirem fotos de seus pratos com efeitos retrô, bordô e à bientôt.

"Fotos de paisagens e de pessoas acabou se tornando demodê. A febre agora é usar o Instagram e a possibilidade de transformar em arte um simples prato de miojo com salsicha!"

Michel foi convidado recentemente como homenageado em uma vernissage no museu Daboy Olisse, em Caracas, em que são expostas fotografias do final do processo digestivo tiradas com Iphones e filtradas unicamente pelos efeitos do programa Instagram.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Xuxa lança filme embalada na onda de novas lendas urbanas

Xuxa deve lançar ainda este ano um novo filme em que volta a abordar a temática de seres fantásticos. Dessa vez a apresentadora optou por falar de um novo tipo de criatura que deve tornar-se parte do folclore carioca: o eleitor de Eduardo Paes.

"Eu fico navegando na internet e vejo essas pesquisas de ibope no site do G1 e assisto no Jornal Nacional que o Eduardo Paes tem 90, 120, 200% de intenção de votos e eu comecei a ficar intrigada com esse mistério... E como eu sempre gostei de fadas e gnomos, eu me perguntei: Quem seriam estes seres que votam no Paes?"

O filme tem data prevista de lançamento para novembro. Supersticiosa, Xuxa optou por lançar o filme após as eleições de 2012 no Rio de Janeiro por não saber se os eleitores do Eduardo Paes são criaturas amistosas. "A gente nunca sabe, né gente?"



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Por que ser vereador é ganhar na loteria?

Pra você que não faz idéia das atribuições de um vereador, da rotina de trabalho, dos deveres para com a população e de quanto um vereador custa aos cofres públicos, hoje é seu dia de sorte (ou não...)

Para que uma pessoa concorra ao cargo, a gincana é a seguinte:


  • Ser brasileiro (difícil essa, hein?!);
  • Estar filiado a algum partido político (não consigo conceber um motivo racional pra esse pré-requisito...);
  • Ter idade mínima de 18 anos (Não foi dessa vez que você tirou teu filho do videogame...);
  • Se candidatar na mesma cidade em que vota (Miami ainda não é considerado Brasil... não insista!).
Vereadores são eleitos juntamente com os prefeitos da cidade. Ficam no cargo por 4 anos e podem se reeleger até morrer (muitos inclusive já morreram e não sabem... por isso talvez haja mudanças neste aspecto.)

O trabalho deles é:

  • Discutir questões locais (muitos levam o termo "discutir" ao pé da letra...);
  • (segure o riso... se estiver lendo isso à noite ou no trabalho, pule este item!) Fiscalizar o trabalho do prefeito em relação a sua administração e gastos de orçamento (pode rir agora!);
  • Elaborar a lei orgânica. Nossa constituição garante liberdade para que cada município crie leis que se encaixem com suas particularidades, desde que estas leis não contrariem a constituição... Ou seja, em vez de usarmos a constituição e aplicarmos as mesmas leis a questões municipais baseadas em princípios como bom senso, ética e moral, preferimos criar um tumor burocrático pra cada cidade. (Pra que facilitar a vida do povo, não é?!);
  • Atender à população em pleitos (solicitações) públicos ou individuais e lutar para que estas solicitações, quando forem autênticas (pedir ajuda pra terminar aquela laje parada há 2 anos não se enquadra nesse conceito!), sejam atendidas: obras, reformas, segurança, saúde, educação, etc...
E agora o item mais esperado por você que aguentou ler até o final (ou simplesmente apertou CTRL+F):

Quanto ganha um vereador?

O salário (Ops! Eles não gostam que chamem assim...o nome bonitinho é subsídio!) é um percentual que varia em função do número de moradores de cada município.

No município do Rio de Janeiro o salário atual dos digníssimos vereadores é de R$15.032,00 (acho interessante colocar por extenso - se você for cardíaco, pule para o próximo parágrafo - QUINZE MIL REAIS E TRINTA E DOIS CENTAVOS. 

Q-U-I-N-Z-E   M-I-L   R-E-A-I-S !!! 

(Se você estiver conseguindo ler esta linha sem a ajuda de um desfibrilador, pode dispensar seu check up anual com o cardiologista!)

No caso do Rio, este singelo subsídio chegou a tal valor após os vereadores, visando apenas o benefício dos próprios umbigos, aumentarem seus próprios salários em sessenta e três por cento!!! 

(Pode falar... Não seria fantástico se todas as pessoas tivessem a liberdade de aumentar seus próprios salários?)

Mas mantenha a calma, meu amigo... Esse país não é a esbórnia que alguns pregam... Há razões lógicas e legais para esse "subsídio" ter esse singelo valor... É que a emenda constitucional 25/2000 estabelece que os vereadores cariocas têm direito a receber até 75% do salário dos deputados estaduais, que, no Rio, ganham R$ 20.042,00 (e você achando que loteria era ser vereador...). 

Entendeu? Nosso país não é uma casa de favores, como muitos apregoam injustamente... Tudo tem uma explicação bastante lógica e amparada pela lei!

Agora me responda: por que você deve pagar quinze mil reais a um político que não tem nem carga horária de trabalho?! 

Por que você, enquanto cidadão e contribuinte, não pode acabar com essa farra com dinheiro público e  escolher aplicar esta verba para aumentar os salários de médicos e professores públicos? 

Por que não é possível decidir que os ditos subsídios de vereadores e deputados sejam reduzidos a R$3.000,00 por mês e que o resto do dinheiro seja usado em reforma e construção de escolas? Na compra de remédios e aparelhagem hospitalar?




POR QUE?






Legião da Boa Vontade 2.0 (ou correntes imbecis no Facebook)

Sabe quando você vê aquela foto bizarra dos bebês siameses hidrocéfalos canhotos, com um texto garantindo que se você compartilhá-la Bill Gates vai transformar seus cliques em caixas de Cremogema a ser enviadas de helicóptero para a favela no Camboja onde a criança mora?

Então... Não rola.

Meu Pé de Laranja Lima 2012... O que foi aquilo?

Essa manhã o vento trouxe a meus pés um desses jornais gratuitos distribuídos em sinais de trânsito. Supersticioso como sou, não desdenhei da leitura encardida de poeira. E ao passar a vista por uma das páginas, meus olhos fotografaram as palavras "pé" e "laranja" numa mesma linha. O coração bateu mais forte... Seria coincidência?

Fixei a vista e não tive dúvida: "Meu Pé de Laranja Lima". Aquele título mágico pintado num jornal tão atual... Mas do que se trataria aquela nota?

O FILME!!!! Será?!?! N-Ã-O A-C-R-E-D-I-T-O !!!! O FILME!

Eu sabia do filme! Soube há mais de um ano enquanto fazia buscas no Google para meu TCC sobre o livro e a obra do Zé Mauro. Eu tenho essa intimidade com ele: não o chamo José Mauro de Vasconcelos. Nem Zezé. Para mim ele é o Zé Mauro...

E o trato como um amigo, pois vivemos ambos infâncias de pés descalços, de fazer arte na rua, de bolas de gudes e pipas, de palmadas. Ele viu o Mangaratiba feroz cruzando Bangu. Eu vivi minha infância entre Paraty e Rio de Janeiro, namorando as intermináveis composições cheias de minério sobre os derradeiros trilhos em Mangaratiba.

Zé Mauro teve a Rosinha. Eu desci inúmeras canoas areia abaixo e remei as águas calmas da baía do Saco da Velha, em Paraty.

Ambos entrávamos no mato de facão e calças compridas (para não voltar com as pernas cheias de arranhões da mata e carrapichos). Saíamos com cachos de banana e tirávamos a cica das mãos com óleo de cozinha (porque água só piorava o visgo...)

Somos ambos simples em nossas visões do mundo. Nada de riquezas. Nada de frescuras. Só a liberdade de correr pro mato quando a vida na cidade grande enlouquece...

Todas essas semelhanças me fazem procurar cada vez mais estar em contato com seu mundo, procurar mais histórias, como um filho que tenta se parecer com o pai que nunca conheceu.... E, dotado deste espírito, recebi a notícia da refilmagem de Meu Pé de Laranja Lima, que seria exibida durante o Festival do Rio 2012.

Estou voltando nesse momento do Cinemark Botafogo. Infelizmente desolado...

O filme original, de Aurélio Teixeira, não dispunha de tecnologia ou de conhecimento técnico (provavelmente nem mesmo de recursos financeiros...) para retratar o texto do livro de outra forma que não a literal. Cena a cena tiradas de cada passagem, como numa fotonovela.

E diante desta constatação, eu julguei errônea e premeditadamente que o jogo estaria ganho; não havia como a refilmagem ser inferior ao original. Isso me encheu de alegria por antecipação. E com tristeza constatei que, de fato, eu "perdi a partida"... Como Zezé, eu esperei pelo meu "Raio-de-Luar cinematográfico". E me senti como menino diabo, esquecido por Deus sem motivos...

A trama foi transposta para alguma cidade de Minas Gerais (cuja identidade foi escondida mesmo após a pergunta direta da professora de Zezé, em sala de aula).  O que aconteceu com o calor de Bangu? Vemos um Zezé andando de jaqueta(!) pelas ruas. Eu até entendo que o clima estivesse frio durante as filmagens (já que o interior de Minas é muito frio no inverno), mas aquele menino estava muito limpinho e arrumado demais para retratar um garoto que, no livro, mal teve ceia de Natal... 

O menino que interpreta Zezé é até carismático, mas muito menos expressivo em sua revolta... E o Rei Luis parece um autômato, um ator cru demais para interpretar o papel. Fez falta ver um Zezé com semblante mais revoltado, mais debochado, mais moleque de rua. Em vez disso escolheram como ator um menino com todas as características do burguesinho Serginho, o amigo rico da bicicleta nova.

Porque Godóia virou uma pré-adolescente com cara de biscoito Trakinas? Onde foi parar a irmã madura, experiente e sofrida? Ela só manifesta alguma tristeza - muito mal, diga-se de passagem - na cena em que tenta consolar Zezé após a surra de Jandira. E passa o resto do filme sorrindo...

Eu teria chamado o John Woo para desacelerar todas as passagens emblemáticas do filme, que parecem ter sido compactadas por falta de verba. O que foi aquele meio frame representando o desabafo de Zezé na frente do pai pobre na manhã de natal? Que desperdício de passagens antológicas... Em vez dos "olhos gigantes" do pai (olhos que tomavam a tela do cinema Bangu), um vulto na porta do quarto que se esgueira casa adentro como se fosse o Batman procurando refugio nas sombras...

E o que aconteceu com o pai de Zezé? Virou esse galã de comercial de plano de saúde familiar, de voz macia com suas camisas xadrez coloridas bem passadas, como se fosse um ator global vindo das compras em Ipanema... Não convenceu.

E não me recordo de nenhuma passagem do livro dando a entender que o pai de Zezé tivesse problemas com bebida (ou vivesse no bar...)

O mesmo efeito me causou José de Abreu, naquele sotaque ioiô cujas nuances de pronúncia iam do lusitano ao gaúcho, como se não se decidisse sobre sua origem. Onde foi parar o Portuga bonachão? E o que foi aquele enquadramento na cena do sermão do "morcego"? Tentando apelar para a memória dos fãs de Avenida Brasil? (de acordo com comentários sobre esta postagem, o filme é anterior à novela. E a culpa pela cena tosca é do diretor, não dele...) Foi só nojento.

Faltaram passagens interessantíssimas. O aprendizado da leitura com Tio Edmundo. A travessia da Rio-Santos com Totoca. A bicicleta do amigo rico, Serginho. A confissão à professora do lanchinho compartilhado com a amiguinha pobre...

Mas sobraram denúncias politicamente corretas, numa tentativa de "corrigir" a trama original às vistas da atualidade: Zezé deixa de aparecer nu na cena da pescaria, mas aparece com hematomas após uma surra dos pais - coisa que faria qualquer adulto da atualidade tirar satisfações com os pais ou denunciá-los às autoridades - e a cena fica como uma mensagem vazia boiando no meio do filme ("ninguém é preso no livro, gente... Ih... Mas agora a cena já passou! Deixa pra lá! Ninguém vai perceber esse recado pela metade!"). E o mesmo volta a acontecer quando o médico analisa a febre psicológica de Zezé após a morte do Portuga. Os pais sem jeito trocando olhares culpados... e termina por ali. Ao menos não chamaram o Wagner Montes ou ligaram para o disque-denúncia!

E além do figurino fazendo merchandising de algum magazine brasileiro, o que aconteceu com a trilha sonora? O diretor parece ter se inspirado em Cinema Paradiso e encarregou algumas pessoas de imitar o genial Ennio Morricone, quase esmagando o pequeno Zezé com sua sonoridade desnecessariamente pesada para cenas de pouca intensidade.

Ao final da exibição do filme havia um grupinho, sentado na mesma fila, na sessão a que assisti, que  puxou as palmas de uma platéia mista de curiosos perdidos na sessão e velhinhas entediadas fugindo de desenhos 3D. Triste...

Aos responsáveis pelo filme fica a pergunta: o que foi aquilo a que eu acabara de assistir???

A Zé Mauro, onde quer que esteja, fica o recado: não foi dessa vez que matei minhas saudades...


PS: Hoje, aos 19 de abril de 2013, descobri a possível motivação para a escolha do ator bochechudinho para o papel do Zezé. O menino é filho do cantor sertanejo Leonardo... Sem mais.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Já é outubro... "Ho-Ho-Ho"!

Já é Outubro... O período do ano em que o comércio transforma 3 meses em um limbo. 
Aí chega o Natal, as pessoas se engasgam com 5 rabanadas e vinho e saem correndo 
pra comprar presentes de última hora e assassinar vendedoras lerdas e motoristas 
barbeiros. Mas logo vem  o Reveillon e todo mundo jura que vai fazer dieta, terminar relacionamentos estranhos, respeitar o próximo, ser mais paciente... e no dia 2 de Janeiro as promessas já viraram passado e o ciclo doentio recomeça...


O ser humano é curioso.