segunda-feira, 9 de abril de 2012

Contradições do Metrô Carioca

É, minha gente... A gente quer fazer o que é certo e as instituições começam dando o mal exemplo.

Há 2 anos eu comprei uma bicicleta dobrável - a Dahon Eco 1. A bichinha é pesada pra carregar, mas é uma delícia de pedalar! É quase como um brinquedo de adulto! Sua relação (catracas, corrente e pedivela) permite uma pedalada superior a uma bicicleta convencional de aro 20, além do conforto e da praticidade.

Comprei esta bicicleta dobrável na intenção de usá-la como transporte complementar. Até ano passado eu trabalhava no final do Leblon e, de onde eu moro em São Cristóvão até o ponto do ônibus que eu pego para o Leblon, preciso fazer uma caminhada de 30 minutos. Passei a percorrer o trajeto de minha casa ao ponto em 8 minutos. Ao chegar ao ponto dobrava a bicicleta, passava pela roleta com ela e sentava num banco "solitário" do ônibus segurando-a entre minhas pernas. Ninguém nunca reclamou de nada. Pelo contrário: passageiros, motoristas e cobradores frequentemente faziam perguntas e comentários deslumbrados sobre a praticidade da bicicleta.

Mas como em alguns dias da semana o ônibus saia lotado desde o ponto final em São Cristóvão e, pelo fato de o ponto ficar ao lado da Estação São Cristóvão do Metrô Rio, pensei: Porque o metrô não aceitaria que eu entrasse na estação com minha bicicleta, já que nem mesmo os fiscais do ônibus fizeram qualquer tipo de crítica ou objeção ao fato de eu transportar a bicicleta dobrada?

Entrei no metrô pela primeira vez e fiquei extasiado com a possibilidade de poder desembarcar em Ipanema, desdobrar minha bicicleta, pedalar 20 minutos pela orla e chegar ao trabalho sem me expor a poluição ou ao stress do trânsito.

Mas eis que na volta pra casa surgiu o problema: ao tentar o retorno pela estação Ipanema/General Osório (e após passar por um segurança à entrada da estação e percorrer TODOS os níveis e escadas até chegar às roletas...) fui impedido por um segurança próximo aos guichês que se dirigiu a mim com com a seguinte fala "Amigo, amigo! Você ia pra onde com essa bicicleta?" ao que eu respondi "Eu estou indo pra São Cristóvão". E ele "Não pode. Bicicleta só no fim de semana e feriado!". Eu disse "A minha é dobrável. Ela tá dobrada" e o segurança (desconfio até hoje de que ele era aluno de filosofia, diante do embasamento do argumento apresentado) disse "Mesmo dobrada ela ainda é bicicleta e bicicleta só no fim de semana ou feriado!".

Não estando disposto a contra-argumentar, me vi obrigado a pedalar da Praça Nossa Sra. da Paz, em Ipanema até a entrada do Tunel Rebouças às 18h (horário de rush) e pegar o ônibus para São Cristóvão com a bicicleta esmagada entre minhas pernas e a porta do ônibus lotado...

Meu emprego atual fica no bairro do Catete, a menos de 5 minutos a pé da estação. Porém a distância de minha casa até a estação de São Cristóvão continua me tomando os mesmos 30 minutos de caminhada. Passei a percorrer o percurso com saudades de pedalar a pequena dobrável. O regulamento do metrô não permitia seu uso durante a semana, portanto, eu teria de me acostumar com a idéia...

Mas algumas situações presenciadas diariamente nas estações e vagões começaram a me deixar bastante revoltado. Passei a perceber quase que diariamente pessoas usando o metrô e carregando caixas com televisões, malas de viagem e outros volumes tão grandes e até maiores que o da minha injustiçada bicicleta.

Enviei um e-mail ao Metrô Rio questionando esta seletividade na permissão do embarque de passageiros portando volumes e eles informaram seguir "uma criteriosa avaliação dos volumes que passam pela roleta".

Criteriosa?! Que critério é esse??? Se a preocupação fundamental dos funcionários e da empresa é com o bem estar dos passageiros e a facilidade de locomoção dos mesmos dentro dos vagões e nas estações, as malas de viagens e volumes gigantescos não deveriam receber o mesmo tratamento que minha bicicleta dobrada?

A constituição federal garante o PRINCÍPIO DA IGUALDADE:



A preocupação do Metrô Rio é se minha bicicleta é um volume que incomoda outros passageiros ou é só pelo fato de ser uma BICICLETA sendo transportada no Metrô durante a semana? A empresa não tem coisa mais importante pra fazer do que impedir que um passageiro preocupado com transporte alternativo utilize seus serviços portando um volume menor que uma cadeira de rodas? Está sendo avaliada a natureza dos objetos ou o volume ocupado pelos mesmos????

Pra uma instituição que apregoa aos quatro ventos apoio a formas de transporte alternativo, a prática está sendo BEM diferente da teoria!

Segue o link que prova uma (das muitas) contradições no famigerado regulamento do Metrô Rio:


Divulguem. Apoiem. Não deixem que seus direitos sejam cerceados por regulamentos que ferem seus direitos básicos e são aplicados de forma tirânica por empresas que recebem concessão para funcionar e lucrar às nossas custas! Se nada mudar, que mude a empresa responsável pelo metrô!

8 comentários:

Ludmila disse...

Mandei um email pra eles pedindo a posição oficial do Metrô Rio, porque estou com o mesmo problema, e eis o que me responderam:

Prezado(a),
Não obstante o fato de que uma bicicleta, mesmo que seja dobrável, não fará com que deixe de ser uma bicicleta, assim, deverá obedecer aos critérios estabelecidos para o objeto, pois os clientes que possuem bicicletas do tipo não-dobráveis certamente questionarão o motivo e não aceitarão a justificativa: "por ser dobrável". E alegarão o mesmo princípio da isonomia em equiparação. Sendo assim, em função do nível de ocupação dos carros durante a semana útil, as bicicletas, dobráveis ou não, terão permissão para acesso somente nos dias estabelecidos como norma da empresa. Atenciosamente, SERGIO PACHECO Relacionamento com o Cliente MetrôRio Teleatendimento: 0800-595-1111 / 4003-2111

E agora, o que fazemos? Achei um absurdo, quero tentar mudar isso, mas não sei como.

Taurus disse...

Ludmila, o Metrô Rio se vale da infeliz premissa da POSSIBILIDADE de algum "cliente" (Chamar o usuário do Metrô de cliente já demonstra o tipo de relação que a empresa espera ter com as pessoas que utilizam seus serviços...) que utilize uma bicicleta convencional vir a pleitear direitos iguais aos dos usuários de bicicletas dobráveis. O que o Metrô deve fazer é liberar o uso de bicicletas dobráveis DIARIAMENTE e, caso algum usuário de bicicleta convencional venha a pleitear por direitos iguais do uso, aí sim, podem sugerir a estas pessoas: "vocês podem transportar suas bicicletas convencionais no metrô, bastando para isso conseguir inventar alguma "técnica" que permita que sua bicicleta adquira o mesmo volume de uma bicicleta dobrável!

Pronto! O assunto estaria resolvido! NENHUMA pessoa poderia contestar o argumento do VOLUME OCUPADO pelas bicicletas, mas o Metrô Rio não está interessado em "ter trabalho" para controlar o acesso de bicicletas dobráveis nos carros. Quanto ao "nível de ocupação dos carros durante a semana útil", supondo-se que cada composição do Metrô pudesse levar 800 pessoas (leva muito mais!), que haja uma composição a cada 5 minutos para cada sentido e que o valor da passagem só de ida é de R$3,20, em uma hora o Metrô Rio fatura aproximadamente R$120 mil, em um dia eles faturam mais de R$2 milhões! É dinheiro suficiente pra comprar, no mínimo, uma composição nova por mês. Isso é problema deles.

Gostaria muito que algum grupo, como o pessoal do TRANSPORTE ATIVO pudesse ajudar a gente a persuadir essa mentalidade confortavelmente omissa do Metrô, que se diz tão engajado em promover o uso de transportes alternativos, mas proíbe a circulação de usuários com bicicletas dobráveis que ocupam menos espaço que uma mala de viagem! (e eu nunca vi ninguém sendo importunado nos carros ou plataformas por circular com malas de viagem...)

Paulo disse...

Alguém de vocês já tentou passar com a dobrável na bolsa que é vendida para este propósito ? Creio não ser a melhor solução, mas acredito que seria viável.

Paulo disse...

Recebi essa resposta hoje...

Prezado(a) PAULO,
Esclarecemos que o embarque de bicicletas, é permitido somente aos sábados, domingos e feriados, mas tratando-se de uma bicicleta dobravél, equipara-se a uma cadeira de rodas em questão de volume que é permitido em nosso sistema. Atenciosamente, Bianca Oliveira Relacionamento com o Cliente MetrôRio Teleatendimento: 0800-595-1111 / 4003-2111

Taurus disse...

Opa, Paulo! Essa resposta da Bianca é bem interessante!

Porque eu não vejo diferença entre transportar a bicicleta com ou sem capa, desde que o seu proprietário tenha o cuidado de não esbarrar ou atrapalhar o embarque e desembarque dos passageiros com a bike.

Eu mesmo já argumentei com seguranças em mais de uma estação sobre a bike dobrável ocupar o mesmo espaço de uma cadeira de rodas, mas sempre tive a mesma resposta ignorante estilo "lei é lei"...

Obrigado por contribuir com nossa iniciativa!

Taurus disse...

ERRATA:

Li o e-mail da Bianca a outra atendente do 0800 do Metrô. A moça me pediu licença e levou mais de 5 minutos consultando (diz ela...) a própria Bianca Oliveira, que teria manifestado respondido que jamais houvera informado tal coisa a qualquer pessoa. A atendente insistiu na impossibilidade de circulação da bicicleta. Mesmo entendendo e não sendo capaz de contra-argumentar, a moça manteve-se firme na leitura de seu script em que fica proibida a circulação de bicicletas nas estações em dias de semana...

Mas não desistamos!!!

Suel Vasconcelos disse...

Oi, Taurus! Moro em São Cristóvao e tenho o mesmo problema que vc. Tenho ido daqui de casa (Praça Argentina) até o Flamengo pedalando diariamente, pois não posso entrar no metrô com minha dobrável.

Já aconteceu de nem mesmo domingo deixarem eu entrar, pois era "dia de jogo".
Ficamos rendidos, podemos quando eles querem e não quando precisamos.

Nighto disse...

É ridículo mesmo. Já fui impedido diversas vezes, e em outras, aonde eu só queria acessar o bicicletário da estação, o agente de segurança liberou numa boa, do tipo "a sua é dobrável, né? pode entrar numa boa".

Aparentemente depende do bom humor do agente de segurança.

Sugiro andar com uma bolsa embaixo do selim com uma sacola plástica preta, e embarcar com ela dentro da sacola. Não vão poder argumentar nada, uma vez que vai ser um volume como outro qualquer.