domingo, 26 de setembro de 2010

Maturidade política

Aos 34 anos de idade, já praticamente um veterano em eleições (levando-se em consideração que eu devia ter uns 13 anos na primeira eleição direta do Brasil), vim a descobrir um truque criado para dissuadir as pessoas de votarem em seus candidatos e apostarem suas fichas nos candidatos mais fortes: a Pesquisa de Opinião de Votos.

Alguém já reparou no poder que aqueles gráficos têm sobre a nossa opinião?! Aquelas serras coloridas caminhando em um sobe e desce nervoso são apresentadas a nós como traduções tão exatas das preferências por este ou aquele candidato que acabamos por acreditar que o destino de uma eleição está predeterminado por elas! Como é que nós, gente que trabalha e estuda o dia inteiro, e que só chega em casa na hora de sentar com a janta no colo de frente pro William e pra Fátima, como teríamos condições de discordar destas informações? Não temos tempo, não temos meios, não temos saco pra isso! Afinal de contas acreditamos que o IBOPE, o Datafolha, e qualquer outro instituto de pesquisas de opinião seja uma instituição íntegra e que siga métodos de pesquisa os mais neutros e imparciais possíveis. Mas a pergunta que ficou batendo lá no fundo da minha cabeça foi: Será que estas informações procedem ou estes dados são manipulados para influenciar o voto do cidadão que não entende, que não tem tempo, que não gosta de política a votar somente nos candidatos com mais chance de ganhar a eleição?

Se a gente morasse na Suíça seria outra história... Mas em se tratando de Brasil, terra onde 96% (percentual calculado por mim enquanto estava em choque assistindo o horário político) tem um rabo preso, uma caveirinha no armário, uma continha nas Bahamas, um desvio de dinheiro público, uma superfaturação, não acho muito difícil que uma instituição dessas se prostitua a uma emissora de televisão, a um candidato influente, a uma oferta mais interessante que a ética e a moral (que hoje em dia são como roupa suja. Manchou? Passa um sabão e ninguém lembra da sujeira!). Afinal de contas, pra que se preocupar com princípios? A vida é curta, a grana desses esquemas é alta... Num país assim, fica difícil acreditar nas instituições tão cegamente... Mas a gente acredita! A gente acredita!!!

A corrupção é uma coisa que está entranhada na sociedade brasileira. Em vez de lutarmos para alterar leis utópicas, tendenciosas, que prejudicam uns em detrimento de outros, preferimos acatar a toda e qualquer besteira instituída pelas câmaras, senado, etc. e partimos para o plano B: uns soltam um dinheiro pro guarda fazer vista grossa pra carteira vencida, outros dão calote em ônibus pra economizar e assim vamos levando a vida: brincando de abrir uma exceção para uma exceção e, quando notamos, estamos cobrando que os políticos sejam honestos. Os políticos não vêm de Marte! São gente como a gente! Gente que nasceu e cresceu dentro da mesma sociedade e teve que dançar a mesma música que a gente dança! A diferença é que uma vez que sejam eleitos, os desvios e esquemas aumentam. O umbigo cresce, a cobiça aumenta, o comprometimento com o povo fica em segundo plano (isto em raros casos em que o político já chegou a ter algum escrúpulo ou pensar no bem da população...).

Eu faço a minha parte. Sei que ainda erro em muitas coisas, mas eu tento. E acho que só o fato de tentar (e de me policiar) em ser um cidadão o mais íntegro e ético possível já trás benefícios para a sociedade como um todo. Seria muita ingenuidade minha pensar que minha filosofia de vida pudesse ser disseminada, como um vírus do bem, e erradicasse todas as falhas de caráter e de moral da sociedade e, por consequência, de nossos representantes. Sei que não é assim que funciona. Não somos máquinas. Somos regidos por desejos, sonhos, planos e por isso corremos o risco de fazer horrores em benefício próprio. Como ter certeza de que os candidatos a deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes farão o que dizem? Como ter certeza de que eles irão melhorar nossa vida, ou acabar com ela? Lendo. Pesquisando suas vidas, suas trajetórias políticas, os partidos a que pertencem e pertenceram, os problemas em que estiveram envolvidos, as leis, medidas e obras criadas. Somente depois de colocar todos os prós e contras na balança poderemos respirar aliviados e falar: votei num futuro melhor pra mim e pra toda sociedade.

Então pra finalizar, eu suplico: não vote em candidato simpático! Não vote em candidato que defende só taxistas canhotos vascaínos, não acredite em políticos em corpo-a-corpo jurando transformar esgoto a céu aberto em piscina e, principalmente não confie em pesquisas de opinião de voto: vote no seu candidato e ignore as pesquisas! Ou continue assistindo sua novela, seu futebol e deixando os outros escolherem seu destino por você...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bicicleta X Metrô: O marketing da hipocrisia

Sou carioca e circulo pela cidade de bicicleta há mais de 15 anos. Não sou o ciclista mais aparamentado da cidade, mas minha bicicleta tem os piscas traseiro e dianteiro, buzina e luz de freio. Ando sempre pela direita da rua e vocifero o código de trânsito - que me garante o direito de circular no asfalto e ser protegido por veículos maiores - a ônibus e motoristas de passeio mal informados.
Como estou trabalhando num local que me toma mais de 1 hora de deslocamento via pedal, resolvi tentar o serviço oferecido pelo Metrô: transportar minha bike da zona norte à sul da cidade sem fazer pit stop em C.T.I. ao final do percurso.
O Metrô oferece o serviço aos sábados (a partir das 14h) e domingos e feriados durante todo o dia. Resolvi fazer o teste no sábado.
Como fui trabalhar cedo, tomei coragem e suei na magrela por 1h10m até o Leblon. Na volta contornei a orla até a estação Cantagalo.
O serviço oferecido é tão recente e desconhecido que ao entrar no metrô com a bicicleta me senti um pouco como um astronauta e cheguei a fazer um check up das vestimentas pra garantir que nenhum pedaço de "pele" estivesse visível. Tudo OK.
Chegando nas roletas encontrei uma adaptação para passar as bicicletas rente ao chão (e evitar distribuir bordoadas com a roda traseira em outros passageiros). Adaptação tosca, diga-se de passagem: uma das grades foi serrada de forma que meu pneu traseiro passou perfeitamente pela fresta. SÓ o pneu... A suspensão dianteira não passou nem por decreto e o auxiliar do metrô, percebendo meu problema, prontamente me deu de costas e foi conferir algo mais importante na sala de segurança. Como meu cansaço era maior que a paciência, coloquei a bicicleta no ombro e lá fomos nós pela roleta. Nesse momento o rapaz mostrou um interesse repentino pela minha pessoa e me passou um sermão amigável "por favor, na próxima vez passe a bicicleta pela grade". Ao que eu repliquei "a suspensão da minha roda dianteira não passa por ali". Ele: "era só chamar que eu abria a cancela". Seria prático, se o mesmo não tivesse ignorado minha chegada com a bike 1 minuto antes....
Chegando à plataforma, de novo a sensação de ser um astronauta. Mas dessa vez percebi olhares incomodados. Era como se eu fosse um catador de lixo esperando o metrô com meu carrinho à frente. Me dirigi pro final da plataforma, onde encontrei o adesivo no piso indicando o vagão de "carga". Veio o metrô e foi o metrô... Ele não parou no local indicado! Como a composição tinha menos carros, tive que dar uma corridinha leve pra alcançar meu vagão... e disputar lugar entre olhares crucificadores.
Encostei no fundo do carro com a bike como se fosse um adolescente dando uns amassos na namoradinha. O carro enchendo e barrigas alheias apertando o selim, costelas batendo no guidão e a sensação de ser o errado da estória só piorando.
A voz informa: "Estácio. Estação de transferência para linha 2". Depois de cutucar e pedir uns 5 "com licença" fui parido para a plataforma. Bike ao ombro, lá foi o mutante descendo a "escadaria da Penha" até a plataforma da linha 2. Ali eu já não era mais mutante, eu era um louco fugindo do hospício. Olhares incrédulos e risinhos contidos. Nenhuma indicação no piso sobre a posição do carro para ciclistas. Passei por uma montanha com uniforme do Metrô e walkie-talkie que ignorou solenemente a mim e a bicicleta . Fui até o final (ao menos eu achava que fosse...) da plataforma disputar lugar na multidão. Inseguro quanto ao lado em que o trem pararia, fui perguntar a um funcionário que papeava com seu camarada se aquele era o final da estação. Não era. O trem chega naquele momento e lá vou eu correndo "aos passos" e empurrando a magrela pelo outro lado da plataforma. O condutor deve ter tido pena de mim (ou achado graça) e parece ter me esperado entrar com a bicicleta no vagão surpreendentemente vazio. Encostei na porta direita e esperei minha estação chegar.
Ao chegar nas roletas de saída, nenhuma adaptação para sair com a bicicleta pela grade. Aliás, nenhum funcionário à vista para ao menos me guiar por mímica de dentro do aquário de observação...
Resumo da estória: o Metrô inova ao permitir que ciclistas se lancem à própria sorte pelos obstáculos de seus trens e estações e garante uma viagem com mal estar e total falta de assistência. Sobra propaganda e faltam medidas reais para garantir uma viagem tranquila a pessoas que queiram passear com suas magrelas pela cidade. Ainda bem que nossa cidade não foi escolhida para sediar nenhum evento importante nos próximos anos! Já pensou o caos que seria?

PS: mas a penitência não é tão grande. Por enquanto é só aos fins de semana e feriados....